Recentemente vi um documentário na Netflix: Jeff Epstein.

Um bilionário americano que montou uma pirâmide de assédio sexual com crianças, adolescente e adultas. Ele tinha alguns funcionário que chamavam as meninas para irem na casa dele em Palm Beach fazer massagem por $200. E se a menina trouxesse outra amiga levaria mais $200. Ele fez dezenas, ou até centenas de vítimas desta forma. Fato real ocorrido nos EUA.

No documentário os psicólogos ouvidos são unânimes em dizer: o que faz uma criança ou mulher entrar neste tipo de relacionamento é a VULNERABILIDADE: financeira ou afetiva.

O que chama atenção para alguém que entra em uma relação abusiva é o aspecto do medo. Porque, no início a pessoa entra por amor, diversão ou fantasia. Mas em um determinado momento ela sente medo. Muito medo. Medo dele gritar, medo dele bater nela, medo dele deixar de pagar as contas, ou simplesmente medo de fracassar um relacionamento. Esse monte de medo é um prato cheio para um abusador. Então, em um primeiro momento a ideia é que as pessoas não fiquem em estado de vulnerabilidade. Porém, essa ideia não condiz com a realidade de muitas pessoas.

Além disso, há pessoas vulneráveis que começam relacionamento saudáveis. As pessoas que amam de verdade não abusam da fragilidade da outra, mas sim procuram contribuir para que a fraqueza diminua, mesmo que com isto percam o controle da pessoa amada. O amor não é controle. O amor é amor. Quem ama quer ver a pessoa feliz ao lado dela e não com medo. Então, se não é possível acabar com a vulnerabilidade das pessoas, temos que criar mecanismos que elas detectem o início do relacionamento abusivo. E o grande termômetro é o medo. Começou a sentir medo da pessoa amada é porque a coisa está degringolando. O medo se transforma em pavor e aí a libertação começa a ficar cada vez mais difícil porque se trata de uma relação onde a pessoa abusada consente com o abuso. Se é uma criança, embora terrível, há mecanismos judiciais para defendê-la. Mas se é uma mulher adulta, consciente do abuso, mas dependente dele, a situação é complicada.

Nesta hipótese, se o relacionamento está baseado no medo, a pessoa se dando conta disto deve procurar ajuda de um profissional, de um familiar ou de uma amiga ou amigo, para criar forças, perceber a prisão onde está e sair dela. Porque nenhuma relação afetiva precisa de medo para se sustentar. O que sustenta uma boa relação é o amor. E o amor não abusa. O amor não deixa ninguém com medo, muito pelo contrário. Quando nos sentimos amados temos o contrário de medo, ou seja, temos confiança. Temos certeza que a pessoa amada fará de tudo para a nossa felicidade.


Paulo Korte

Advogado, Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP, Autor do livro, "Direito, Casamento e Amor: o casamento, um caminho para encontrar o Absoluto" e fundador do Projeto "Família Nota 7"

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